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Gênesis 12-17: Abraão: Chamado, Promessas e Aliança

Explore a jornada de fé de Abraão, desde o chamado divino em Ur até as alianças fundamentais e promessas de Deus narradas em Gênesis 12-17.

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Revisado por Equipe Bíblia Web

03/05/2025

A Jornada Extraordinária de Abraão: Fé, Promessas e a Aliança que Moldou o Mundo (Gênesis 12-17)

Imagine um homem comum, vivendo sua vida em uma antiga cidade da Mesopotâmia, subitamente confrontado por uma voz divina que o lança em uma aventura capaz de redefinir não apenas seu destino, mas o curso da história mundial. Essa é a essência da história de Abrão, que mais tarde conheceremos como Abraão. Não se trata de encontrar um tesouro escondido ou ganhar uma fortuna inesperada, mas de receber um chamado direto de Deus – uma convocação que o transformaria no "pai das três fés" (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) e daria início a uma relação única entre o Criador e a humanidade. Os capítulos 12 a 17 de Gênesis nos convidam a seguir os passos desse homem, escolhido de forma um tanto misteriosa por Deus, enquanto ele e sua família navegam por promessas grandiosas, desafios inesperados e estabelecem uma aliança fundamental.


Tudo começa de forma abrupta e radical. Deus ordena a Abrão, já com 75 anos:

Saia de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei.
Gênesis 12:1

É um pedido que exige abandonar toda a segurança e familiaridade em troca de um futuro desconhecido, confiando apenas na palavra divina. Mas essa ordem vem carregada de promessas que ecoariam por milênios:

As Promessas Iniciais a Abrão
  • Deus faria de Abrão uma grande nação.
  • Deus engrandeceria seu nome e o abençoaria pessoalmente.
  • Abrão seria um canal de bênção para outros.
  • Deus o protegeria (abençoando quem o abençoasse, amaldiçoando quem o amaldiçoasse).
  • Através dele, todas as famílias da Terra seriam abençoadas.

Num ato de fé notável, Abrão obedece. Reúne sua esposa Sarai (com 65 anos e, significativamente, estéril), seu sobrinho Ló, servos e bens, e parte rumo ao desconhecido. A promessa de uma "grande nação" já nasce em contraste direto com a realidade da esterilidade de Sarai, um dilema que permeará grande parte de sua história. A caravana viaja pelo Crescente Fértil até chegar a Canaã, a terra que Deus lhe indicara. Ali, em Siquém, Deus aparece novamente, confirmando:

É esta a terra que darei à sua descendência.
Gênesis 12:7

Abrão responde construindo um altar, consagrando aquele solo como espaço de encontro com Deus.


Contudo, a Terra Prometida apresenta seus próprios desafios. Uma fome severa obriga a família a buscar refúgio temporário no Egito. É nesse ambiente estrangeiro que a fé de Abrão vacila diante do medo. Consciente da beleza de Sarai e temendo por sua própria vida, ele recorre a uma estratégia questionável, uma "meia verdade" ou "meia mentira": pede a Sarai que se apresente como sua irmã. O Faraó, atraído por Sarai, a leva para seu harém e cobre Abrão de presentes. A situação só é resolvida pela intervenção divina: Deus envia pragas sobre a casa do Faraó, que, ao descobrir a verdade, repreende Abrão:

Por que não me disse que ela era sua esposa?
Gênesis 12:18 (paráfrase)

Abrão e Sarai são expulsos do Egito, mas, curiosamente, partem levando as riquezas adquiridas.

Fidelidade Divina Apesar das Falhas
Esse episódio complexo revela a fragilidade humana de Abrão, mas também a fidelidade de Deus em protegê-lo e em manter Suas promessas de bênção, mesmo quando as ações de Seu escolhido são moralmente ambíguas. A partida com riquezas pode ser vista como um cumprimento da promessa de Deus de abençoar Abrão, independentemente do método questionável usado no Egito.
A Escolha Soberana de Deus
A escolha de Deus por Abraão, como sugerem os textos de apoio originais, parece basear-se mais na soberania e benevolência divina ("porque sim") do que na perfeição do homem. Deus opera Seus planos através de pessoas reais, com suas virtudes e defeitos.

De volta a Canaã, a prosperidade crescente de Abrão e Ló gera atritos. Seus rebanhos competem por pastagens, levando a brigas entre seus servos. Numa demonstração de maturidade e generosidade, Abrão propõe uma separação amigável e dá a Ló o privilégio da escolha:

Se você for para a esquerda, irei para a direita; se for para a direita, irei para a esquerda.
Gênesis 13:9

Ló opta pelas planícies férteis e bem irrigadas do vale do Jordão, próximas às cidades de Sodoma e Gomorra – uma escolha que se revelaria problemática. Abrão permanece nas terras de Canaã. Após a partida de Ló, Deus conforta e reafirma Sua promessa a Abrão de maneira ainda mais enfática:

Levante seus olhos de onde está, e olhe ao norte, ao sul, ao leste e a oeste. Toda a terra que vê eu lhe darei e a seus descendentes para sempre.
Gênesis 13:14-15

A promessa de descendentes numerosos como o pó da terra também é reiterada.


A vida perto de Sodoma logo coloca Ló em perigo. Durante uma guerra regional, Ló e sua família são capturados. Ao receber a notícia, Abrão age rapidamente como um líder militar e um parente leal. Arma seus 318 servos e persegue os exércitos vitoriosos, derrotando-os e resgatando Ló, sua família e todos os bens capturados.

Essa vitória militar é seguida por um encontro singular e misterioso com Melquisedeque.

Melquisedeque: Rei e Sacerdote
Melquisedeque era rei da cidade de Salém (provável precursora de Jerusalém) e também "sacerdote do Deus Altíssimo". Sua aparição é breve, mas significativa. Ele oferece pão e vinho a Abrão (um ato com ecos na Ceia do Senhor) e o abençoa. Em resposta, Abrão lhe entrega o dízimo (a décima parte) dos despojos. A figura de Melquisedeque, sem genealogia registrada, torna-se um arquétipo do sacerdócio eterno, ligado posteriormente a Cristo (Hebreus 7). O ato de Abrão de dar o dízimo também estabelece um precedente importante.

Apesar das vitórias e das reafirmações divinas, a questão central da descendência continua a angustiar Abrão. Em Gênesis 15, ele expressa abertamente sua preocupação a Deus:

Senhor Deus, que me darás, se continuo sem filhos...?
Gênesis 15:2 (paráfrase da preocupação de Abrão)

A resposta divina é uma das mais belas e significativas da Bíblia. Deus leva Abrão para fora, sob o céu noturno, e declara:

Olhe para o céu e conte as estrelas, se puder contá-las... Assim será a sua descendência.
Gênesis 15:5

O texto então registra um momento decisivo:

Abrão creu no SENHOR, e isso lhe foi creditado como justiça.
Gênesis 15:6

A fé de Abrão na promessa divina, mesmo diante do impossível, é considerada por Deus como retidão.

Para selar essa promessa de forma solene, Deus instrui Abrão a realizar um ritual de aliança.

O Ritual da Aliança (Gênesis 15)
Abrão preparou animais divididos ao meio. Ao anoitecer, enquanto Abrão dormia, um símbolo da presença divina (fogo) passou por entre as metades. No antigo Oriente, isso simbolizava um auto-juramento: quem quebrasse a aliança sofreria o mesmo destino dos animais. O fato de apenas Deus passar por entre as peças enfatiza a natureza unilateral e garantida da Sua promessa a Abrão.

ℹ️ Nesta mesma ocasião, Deus revela a Abrão o futuro de seus descendentes: um período de 400 anos de escravidão em terra estrangeira, seguido de libertação e retorno à Terra Prometida.


O tempo, no entanto, continuava a passar sem o cumprimento da promessa do filho através de Sarai. A impaciência levou Sarai a propor uma solução baseada nos costumes da época:

Costumes da Época: Servas e Descendência
No antigo Oriente Próximo, era um costume aceito que uma esposa estéril pudesse oferecer sua serva ao marido para gerar filhos. A criança nascida dessa união seria considerada legalmente como filho da esposa principal.

Sarai oferece sua serva egípcia, Hagar, a Abrão, para que ele pudesse ter um herdeiro através dela. Abrão aceita. O plano humano, porém, gera rapidamente amargura e conflito. Quando Hagar concebe, passa a olhar com desprezo para Sarai. Sentindo-se diminuída, Sarai reage com dureza, levando Hagar a fugir para o deserto. Ali, fragilizada e sozinha, Hagar é encontrada por um anjo do Senhor. O mensageiro divino a conforta, instrui-a a retornar e submeter-se a Sarai, mas também lhe faz uma promessa grandiosa: ela daria à luz um filho chamado Ismael.

Ismael: "Deus Ouve"
O nome Ismael significa literalmente "Deus ouve". O anjo declara que Deus ouviu a aflição de Hagar. Ele também promete que Ismael terá uma descendência numerosa. O encontro revela a compaixão de Deus que alcança até mesmo os que sofrem as consequências das falhas e arranjos humanos.

Hagar retorna e Ismael nasce.


Treze anos se passam desde o nascimento de Ismael. Abrão está com 99 anos quando Deus aparece novamente, desta vez para selar a aliança de forma definitiva e estabelecer seu sinal físico. Deus muda solenemente os nomes do casal:

Mudança de Nomes: Nova Identidade e Destino
Deus muda o nome de Abrão ("pai exaltado") para Abraão ("pai de muitos"), refletindo a promessa de uma vasta descendência. Muda também o nome de Sarai ("minha princesa") para Sara ("princesa"), indicando uma nobreza de alcance mais amplo, a futura mãe de nações. Essas mudanças marcam uma nova fase na relação de aliança e no cumprimento do plano divino.

Deus reitera a promessa de descendência numerosa –

Eu o tornarei muito fecundo
Gênesis 17:6

– garantindo que nações e reis procederão dele – e da terra de Canaã como possessão perpétua. E então, Deus institui o sinal visível e permanente da aliança: a circuncisão. Todo descendente masculino de Abraão deveria ser circuncidado aos oito dias de vida, como marca de pertencimento ao povo da aliança. Abraão demonstra sua fé e obediência imediatamente, circuncidando a si mesmo, a Ismael (então com 13 anos) e a todos os homens de sua casa naquele mesmo dia.


Assim, ao longo destes capítulos de Gênesis, testemunhamos a fundação de uma relação única entre Deus e Abraão. Vimos um homem chamado a uma jornada de fé radical, enfrentando fome, medo, conflitos familiares e militares. Observamos sua generosidade, sua coragem, seus momentos de dúvida e suas tentativas humanas de resolver promessas divinas. Acima de tudo, presenciamos a fidelidade inabalável de Deus, que reafirma Suas promessas, estabelece alianças solenes e guia Seu escolhido, apesar de suas imperfeições. A aliança está firmada, os nomes foram transformados, o sinal foi instituído. A extraordinária aventura de Abraão está longe de terminar, mas as bases para o futuro de um povo e a bênção para todas as nações foram solidamente lançadas.

Referências Bíblicas Principais
  • Gênesis 12 (O Chamado de Abrão, Promessas, Egito)
  • Gênesis 13 (Separação de Ló, Reafirmação da Promessa da Terra)
  • Gênesis 14 (Resgate de Ló, Encontro com Melquisedeque)
  • Gênesis 15 (Aliança da Fé, Promessa das Estrelas, Ritual da Aliança)
  • Gênesis 16 (Hagar e Ismael)
  • Gênesis 17 (Aliança da Circuncisão, Mudança de Nomes)

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