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Gênesis 1: A Abertura da Bíblia e Fundamentos da Criação

Uma visão abrangente dos seis dias de criação, da soberania divina e do valor da humanidade

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Revisado por Equipe Bíblia Web

23/04/2025

Gênesis 1: Abertura da Bíblia e Fundamentos da Criação

O livro de Gênesis é, sem dúvida, uma das porções mais conhecidas e debatidas de toda a Bíblia. Suas primeiras palavras

No princípio, Deus criou os céus e a Terra
Gênesis 1:1

– essas palavras ecoam tanto em ambientes religiosos como em discussões acadêmicas, artísticas e filosóficas. Neste artigo, vamos explorar Gênesis 1 à luz de algumas das principais questões levantadas sobre a narrativa da criação, relacionando-as com interpretações teológicas, históricas e culturais que surgiram ao longo dos séculos.


O Significado de “Gênesis” e o Contexto Antigo

A palavra “Gênesis” tem origem grega e significa “origem” ou “princípio”. No hebraico, o livro é conhecido como Bereshit, que também remete às palavras iniciais do texto: “No princípio”. Esse título já sinaliza a proposta fundamental do capítulo: explicar como o universo veio a existir.

No mundo antigo, diversos povos possuíam mitos de criação (como o Enuma Elish, na Mesopotâmia). Entretanto, Gênesis 1 apresenta uma ênfase notavelmente distinta: não há disputa ou guerra cósmica para o surgimento do mundo; em vez disso, há um único Deus, criador soberano, que simplesmente fala e traz à existência tudo o que existe.


Tohu wa-Bohu e a Ideia de Ordem a Partir do Caos

Logo nos primeiros versículos, o texto descreve a Terra como “sem forma e vazia” – em hebraico, tohu wa-bohu. Essa expressão sugere um estado inicial “caótico”, embora não seja um caos absoluto como em muitos mitos de criação do mundo antigo. O ponto central da narrativa é mostrar que Deus estabelece a ordem naquilo que antes estava desorganizado.

Tohu wa-Bohu e Enuma Elish
Em mitos mesopotâmicos como o Enuma Elish, a criação resulta de guerras entre deuses. Já em Gênesis 1, Deus age soberanamente, “falando” o cosmos à existência. A expressão hebraica tohu wa-bohu (sem forma e vazia) ganha destaque por indicar um estado caótico que Deus organiza com total autoridade.

Para ilustrar esse processo de ordenação, o autor de Gênesis descreve uma “semana” de Criação, na qual Deus forma e, em seguida, preenche o mundo.

Os Seis Dias da Criação
  • Dia 1: Separação entre luz e trevas (“Haja luz”).
  • Dia 2: Separação entre céus e águas (atmosfera e mares).
  • Dia 3: Formação da terra seca e surgimento das plantas.
  • Dia 4: Criação do sol, da lua e das estrelas.
  • Dia 5: Criação de peixes e aves.
  • Dia 6: Criação dos animais terrestres e do ser humano.

Dias Literais ou Figura de Linguagem?

Uma pergunta frequente sobre Gênesis 1 é se os “seis dias” da Criação devem ser entendidos como períodos literais de 24 horas ou como um recurso literário, apontando para longos intervalos de tempo.

Interpretação Literal: Alguns leem o texto como indicando seis dias de 24 horas, resultando em cerca de seis mil anos de história total da Terra.

Bispo James Ussher e a Data da Criação
No século XVII, James Ussher calculou que a Criação teria ocorrido em 4004 a.C., reforçando a ideia de uma interpretação literal e jovem da Terra.

Interpretação Figurativa: Outros, incluindo pensadores cristãos antigos como Agostinho, sugeriram desde cedo que esses dias são simbólicos ou representam “épocas” mais longas, visto que o próprio sol (pelo qual medimos o dia) só surge no quarto dia.

Independentemente da abordagem, há um acordo geral de que a narrativa enfatiza a soberania e a intencionalidade de Deus ao criar, mais do que fornecer um cronograma científico.


Deus: Poder, Transcendência e Bondade

Em Gênesis 1, o autor bíblico descreve Deus com alguns atributos centrais:

Atributos de Deus
  • Poderoso (Onipotente): Ele cria por meio da palavra: “E disse Deus: ‘Haja luz’”. A criação “do nada” (ex nihilo) ressalta que Deus não depende de matéria pré-existente.
  • Transcendente: Deus não se confunde com as forças naturais, mas está acima da criação, soberano sobre tudo.
  • Bom: A cada etapa, “era bom”. Ao final de toda a obra,
    E Deus viu tudo o que Ele tinha criado, e eis que era muito bom.
    Gênesis 1:31
ex nihilo
Expressão em latim que significa “a partir do nada”, utilizada para indicar que Deus criou o universo sem depender de matéria pré-existente.

A Criação da Humanidade e a Imagem de Deus

O clímax da narrativa acontece no sexto dia, quando Deus cria os seres humanos. As palavras do texto bíblico afirmam que a humanidade é feita “à imagem e semelhança de Deus”. Logo após, encontramos a afirmação:

E Deus criou a humanidade à Sua imagem, à imagem de Deus Ele os criou; homem e mulher Ele os criou.
Gênesis 1:27

Mas o que isso significa? Alguns entendem que “imagem de Deus” envolveria a ideia de características físicas (olhos, mãos, braços etc.). Contudo, a maioria dos estudiosos entende tais referências como formas literárias (linguagem figurativa) para falar de Deus.

Outra vertente destaca que a imagem de Deus diz respeito às qualidades “internas” dos seres humanos, como moralidade, racionalidade, criatividade, compaixão e inteligência. Em todo caso, a implicação principal de sermos feitos à imagem de Deus é que todos os seres humanos compartilham de uma dignidade fundamental.


A Primeira Bênção e os Mandatos da Criação

Em Gêneis 1:28 encontramos as primeiras instruções de Deus para a humanidade:

Sejam fecundos e multipliquem-se; encham a Terra e a dominem
Gênesis 1:28

 

Mandatos Divinos
  • Multiplicação: Crescer em número e preencher a Terra.
  • Domínio: Administrar e cuidar da criação de maneira responsável.

O Sétimo Dia e o Descanso de Deus

Gênesis 2:2-3 descreve que no sétimo dia “Deus descansou de todo o trabalho que fizera”. Surge a pergunta: “Será que Deus se cansou?”. A explicação mais comum considera a expressão “descansou” como linguagem antropomórfica – ou seja, a Bíblia utiliza termos humanos para descrever ações divinas, facilitando nossa compreensão.

Deus descansou de todo o trabalho que fizera
Gênesis 2:3

Deus não se cansa como nós, mas Ele cessa Sua obra criadora e estabelece um padrão de pausa e reflexão para a humanidade. Esse princípio de descanso será retomado em outras passagens bíblicas, reforçando a ideia de equilíbrio entre trabalho e contemplação.


Reflexões e Aplicações

Uma Visão Prática de Gênesis 1
Pontos Principais de Gênesis 1
  • Ordem e Propósito: O mundo não é fruto do acaso, mas de uma vontade intencional e bondosa.
  • Valor Humano: A vida humana tem um valor único, pois somos feitos à imagem de Deus.
  • Responsabilidade Ambiental: O “domínio” implica cuidado e gestão consciente do planeta.
  • Ritmo de Vida e Descanso: O sétimo dia nos mostra a importância do descanso e da celebração.

Conclusão: Gênesis 1 funciona como uma grande introdução não apenas à Bíblia, mas também a todo um modo de entender a realidade. Ele responde (ou pelo menos inicia a resposta) a algumas das questões mais profundas: De onde viemos?, Por que estamos aqui?, Qual o sentido da existência?.

A narrativa apresenta Deus como fonte de tudo, sublinha a dignidade humana e evidencia o desejo divino de ordem, beleza e bondade. Seja você alguém que busca fortalecer suas raízes de fé ou um curioso que deseja entender as bases culturais e religiosas do mundo ocidental, Gênesis 1 continua sendo uma porta de entrada essencial para explorar o restante das Escrituras e a história do pensamento humano.


Referências Bíblicas
  • Gênesis 1:1
  • Gênesis 1:27
  • Gênesis 1:28
  • Gênesis 1:31
  • Gênesis 2:3

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