Ana era uma das duas esposas de Elcana, um levita que vivia em Ramataim-Zofim, na região montanhosa de Efraim. Enquanto a outra esposa, Penina, tinha filhos, Ana era estéril, o que lhe causava grande angústia, exacerbada pelas provocações constantes de Penina, especialmente durante as peregrinações anuais da família ao Tabernáculo em Siló para adorar e sacrificar a Deus (1 Samuel 1:1-7). Elcana amava Ana profundamente e tentava consolá-la, mas sua tristeza era imensa.
Numa dessas visitas a Siló, após a refeição sacrificial, Ana retirou-se para orar no Tabernáculo. Com "amargura de alma" e chorando muito, ela orou fervorosamente ao Senhor em silêncio, apenas movendo os lábios. Fez um voto solene: se Deus atentasse para sua aflição e lhe desse um filho homem, ela o dedicaria ao serviço do Senhor por todos os dias de sua vida (como nazireu, implícito na promessa de que navalha não passaria sobre sua cabeça) (1 Samuel 1:9-11).
O sumo sacerdote Eli, vendo seus lábios se moverem sem som, presumiu que ela estivesse embriagada e a repreendeu. Ana, respeitosamente, explicou sua situação: "Não, senhor meu, eu sou mulher atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida forte; porém venho derramando a minha alma perante o SENHOR [...] da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto é que tenho falado até agora" (1 Samuel 1:15-16). Compreendendo a situação, Eli a abençoou: "Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste" (1 Samuel 1:17).
Com o coração aliviado e o semblante mudado, Ana voltou para casa com Elcana. Deus "se lembrou dela", e ela concebeu e deu à luz um filho, a quem chamou Samuel, dizendo: "porque ao SENHOR o pedi" (1 Samuel 1:19-20).
Fiel ao seu voto, após desmamar Samuel (o que na época poderia significar por volta dos 3 a 5 anos de idade), Ana o levou a Siló e o apresentou a Eli, entregando-o formalmente ao serviço do Senhor no Tabernáculo. Sua entrega foi acompanhada por sacrifícios e por um poderoso cântico de louvor e gratidão, conhecido como o Cântico de Ana (1 Samuel 2:1-10). Este cântico exalta a soberania de Deus, sua justiça que exalta os humildes e derruba os orgulhosos, e sua fidelidade, contendo também elementos proféticos sobre o poder divino e seu "ungido" (Messias/Rei).
Ana continuou visitando Samuel anualmente em Siló, levando-lhe uma pequena túnica que fazia. Eli abençoava Elcana e Ana, pedindo que Deus lhes desse mais filhos em lugar daquele que fora dedicado. Deus de fato visitou Ana novamente, e ela teve mais três filhos e duas filhas (1 Samuel 2:18-21). A história de Ana é um testemunho marcante da eficácia da oração fervorosa, da fidelidade de Deus e da importância da dedicação pessoal no cumprimento dos propósitos divinos.