Enoque é uma figura singular entre os patriarcas antediluvianos listados em Gênesis 5. Filho de Jarede e pai de Matusalém (o homem de maior longevidade registrada na Bíblia), Enoque pertence à linhagem piedosa de Sete, sendo o sétimo descendente desde Adão (Gênesis 5:18-22; Judas 1:14).
Sua vida é resumida de forma concisa, mas marcante. Gênesis 5:22 afirma que, após gerar Matusalém aos 65 anos, "andou Enoque com Deus trezentos anos e gerou filhos e filhas". A expressão "andar com Deus" (usada também para Noé em Gênesis 6:9) denota uma comunhão íntima, uma vida de retidão e obediência em meio a uma geração que se distanciava de Deus.
O clímax de sua biografia é sua partida da terra. Ao contrário dos outros patriarcas da lista, para quem se repete a fórmula "e morreu", sobre Enoque está escrito: "Andou Enoque com Deus; e já não era, porque Deus o tomou para si" (Gênesis 5:24). Isso indica que ele não experimentou a morte da maneira usual, mas foi levado (transladado) diretamente para a presença de Deus aos 365 anos de idade – uma vida relativamente curta em comparação com seus contemporâneos, mas completa em sua devoção.
O Novo Testamento expande o significado da vida de Enoque. Hebreus 11:5-6 o inclui na galeria dos heróis da fé: "Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam." Sua fé manifesta em "andar com Deus" foi o que agradou ao Senhor e resultou em sua trasladação.
A Epístola de Judas (versículos 14-15) vai além, atribuindo a Enoque uma profecia específica sobre o julgamento futuro: "Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele." Embora esta profecia não esteja registrada no Antigo Testamento canônico, ela se encontra no apócrifo Livro de Enoque (1 Enoque 1:9), uma obra influente no judaísmo intertestamentário. A citação por Judas no Novo Testamento confere autoridade ao conteúdo dessa profecia específica.
Enoque permanece, portanto, como um poderoso exemplo de fé, piedade e comunhão com Deus em tempos de crescente maldade, cuja recompensa foi escapar da morte e ser levado diretamente à presença divina. Sua figura também inspirou uma vasta literatura apocalíptica extra-bíblica que explora temas de revelação celestial e julgamento.