O profeta Habacuque ministrou em Judá durante um período turbulento, provavelmente no final do século VII a.C., quando o poder da Assíria declinava e o Império Neobabilônico (Caldeus) ascendia, ameaçando Judá, que também sofria com injustiça e violência internas (possivelmente sob o rei Jeoaquim).
Seu livro é único entre os profetas por sua estrutura de diálogo direto e honesto com Deus. Habacuque inicia com uma queixa angustiada (Habacuque 1:2-4): "Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?". Ele questiona por que Deus parece tolerar a iniquidade e a opressão desenfreadas em seu próprio povo.
A primeira resposta de Deus é surpreendente (Habacuque 1:5-11): Ele está levantando os caldeus (babilônios), uma nação "amarga e impetuosa", como Seu instrumento de juízo contra Judá. Deus descreve a ferocidade e o poder avassalador dos babilônios.
Essa resposta leva Habacuque à sua segunda queixa, ainda mais profunda (Habacuque 1:12-2:1): Como pode Deus, que é eterno, santo e puro de olhos, usar uma nação idólatra e traiçoeira, ainda mais ímpia que Judá, para executar Seu juízo? Como pode Ele permanecer calado enquanto o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele? O profeta então decide se postar em sua "torre de vigia" para esperar a resposta de Deus.
A segunda resposta divina (Habacuque 2:2-20) instrui o profeta a escrever a visão claramente, pois ela se cumprirá no tempo determinado. A mensagem central é dada no versículo 4: "Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé (ou fidelidade, hebraico: 'emunah)". Em contraste com a arrogância do ímpio (Babilônia), que o levará à ruína, o justo deve se sustentar pela sua fé/fidelidade constante a Deus, mesmo quando não compreende Seus caminhos. Segue-se uma série de cinco "ais" contra os opressores babilônios, denunciando sua ganância insaciável, violência, exploração, devassidão e idolatria vã, garantindo seu julgamento futuro. O clímax desta seção é a afirmação da presença soberana de Deus: "O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (Habacuque 2:20).
O livro conclui com o capítulo 3, uma magnífica oração ou salmo de Habacuque, com notações musicais, indicando possível uso litúrgico. O profeta relembra as poderosas intervenções de Deus na história passada de Israel (Êxodo, Sinai, Conquista), descrevendo a teofania divina com temor e tremor. Ele expressa sua angústia diante do juízo iminente, mas termina com uma das mais fortes declarações de fé e confiança incondicional encontradas na Bíblia: "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza..." (Habacuque 3:17-19). A jornada de Habacuque vai da dúvida angustiada à fé triunfante, baseada não nas circunstâncias, mas no caráter imutável de Deus.