Mardoqueu, filho de Jair, filho de Simei, filho de Quis, era um judeu da tribo de Benjamim que vivia na capital persa, Susa. Ele pode ter sido um dos deportados da Babilônia ou descendente deles (Ester 2:5-6). Mardoqueu era primo de uma jovem órfã chamada Hadassa, a quem ele adotou e criou como filha (Ester 2:7). Quando o rei Assuero (geralmente identificado como Xerxes I) buscou uma nova rainha, Hadassa (agora conhecida por seu nome persa, Ester) foi levada para o harém real, e Mardoqueu a instruiu a não revelar sua identidade judaica (Ester 2:10, 20).
Mardoqueu costumava sentar-se junto à porta do rei (possivelmente indicando uma posição de oficial menor ou simplesmente acesso à área da corte). Foi ali que ele descobriu uma conspiração de dois eunucos do rei, Bigtã e Teres, para assassinar Assuero. Mardoqueu informou a Rainha Ester, que relatou ao rei em nome de Mardoqueu. A conspiração foi investigada e confirmada, os eunucos foram executados, e o ato de Mardoqueu foi registrado nas crônicas reais, embora ele não tenha recebido nenhuma recompensa imediata (Ester 2:21-23).
Posteriormente, o rei exaltou Hamã, um agagita (descendente de Agague, rei dos amalequitas, inimigos históricos de Israel), acima de todos os outros príncipes. O rei ordenou que todos os servos reais se curvassem e se prostrassem perante Hamã. Mardoqueu, porém, recusou-se a fazê-lo (Ester 3:1-4). As razões exatas não são declaradas, mas provavelmente envolviam objeções religiosas (não dar honra divina a um homem) ou o reconhecimento da inimizade histórica entre israelitas e amalequitas.
Essa recusa enfureceu Hamã. Ao descobrir que Mardoqueu era judeu, Hamã decidiu não se vingar apenas dele, mas exterminar todo o povo judeu no vasto Império Persa. Ele manipulou o rei, obteve um decreto real selado e enviou cartas por todo o império marcando o dia 13 do mês de Adar para o massacre e saque dos judeus (Ester 3:5-15).
Ao saber do decreto, Mardoqueu rasgou suas vestes, vestiu-se de saco e cinza, e lamentou amargamente em público. Ele enviou mensagens urgentes à Rainha Ester, informando-a do perigo mortal e instando-a a ir perante o rei e interceder por seu povo. Quando Ester hesitou, lembrando do risco de morte por se aproximar do rei sem ser chamada, Mardoqueu respondeu com palavras firmes e cheias de fé na providência divina: "Não imagines que, por estares na casa do rei, só tu escaparás entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento [...] e quem sabe se não foi para um tempo como este que chegaste ao reino?" (Ester 4:13-14).
Enquanto Ester se preparava para ir ao rei, Mardoqueu e os judeus de Susa jejuaram. A providência divina interveio de forma irônica. Na noite anterior ao segundo banquete de Ester (onde ela planejava expor Hamã), o rei Assuero não conseguiu dormir e pediu que lessem as crônicas reais. Foi lido o registro do ato de Mardoqueu salvando a vida do rei, e Assuero percebeu que Mardoqueu nunca fora recompensado. Justamente nesse momento, Hamã chegou ao pátio para pedir permissão para enforcar Mardoqueu na forca que havia preparado. O rei perguntou a Hamã como honrar um homem a quem o rei desejava exaltar. Hamã, pensando que era ele mesmo, sugeriu uma cerimônia grandiosa. Para seu horror, o rei ordenou que Hamã fizesse exatamente isso por Mardoqueu, o judeu (Ester 6).
Após Ester expor o plano de Hamã no segundo banquete, o rei ordenou que Hamã fosse enforcado na forca que ele havia preparado para Mardoqueu (Ester 7). O rei então promoveu Mardoqueu, dando-lhe a casa de Hamã e o seu próprio anel de selar (Ester 8:1-2). Mardoqueu, junto com Ester, trabalhou para emitir um novo decreto real que permitia aos judeus se defenderem de seus inimigos no dia 13 de Adar. Os judeus foram vitoriosos (Ester 8-9).
Mardoqueu foi exaltado a uma posição de grande poder no império, tornando-se "o segundo depois do rei Assuero, e grande para com os judeus, e estimado pela multidão de seus irmãos, procurando o bem do seu povo e falando-lhes em paz" (Ester 10:3). Ele e Ester escreveram cartas estabelecendo a celebração anual da festa do Purim para comemorar a grande libertação (Ester 9:20-32). Sua história é um testemunho de fidelidade, coragem e da mão providencial de Deus protegendo Seu povo.