Miqueias, o Morastita (natural de Moresete-Gate, uma cidade na região da Sefelá, em Judá), foi um profeta que ministrou durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá (Miqueias 1:1). Ele foi contemporâneo do profeta Isaías, mas enquanto Isaías parece ter tido mais acesso à corte em Jerusalém, Miqueias possivelmente tinha uma perspectiva mais rural, focando intensamente nas injustiças sociais que afligiam o povo comum.
Seu livro começa com um anúncio do juízo de Deus, que sairia de Seu templo para testemunhar contra os pecados de Samaria (capital de Israel, Reino do Norte) e Jerusalém (capital de Judá), comparando suas transgressões a feridas incuráveis (Miqueias 1). Ele denuncia especificamente os líderes (príncipes, juízes) que "abominam o juízo e pervertem tudo o que é direito", "edificam a Sião com sangue e a Jerusalém, com perversidade". Acusa também os sacerdotes que ensinam por interesse e os profetas que adivinham por dinheiro, os quais, apesar de tudo, ainda se apoiavam no Senhor dizendo: "Não está o SENHOR no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá" (Miqueias 3:9-11). Por causa dessa corrupção generalizada, Miqueias profere uma das mais duras sentenças contra a capital: "Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de ruínas, e o monte do Templo, numa colina coberta de mato" (Miqueias 3:12). Séculos depois, Jeremias 26:18-19 recorda que esta profecia levou o rei Ezequias e o povo ao arrependimento, adiando o juízo.
Apesar das fortes denúncias, a mensagem de Miqueias também contém poderosas promessas de esperança e restauração. Ele vislumbra um futuro glorioso para Sião (o monte do Templo), quando seria estabelecida como o principal dos montes, e nações de todo o mundo fluiriam para lá buscando aprender a lei de Deus. Isso resultaria em paz universal, com espadas sendo transformadas em relhas de arado (Miqueias 4:1-5, um paralelo próximo a Isaías 2:2-4). Ele também profetiza a libertação de Israel do exílio na Babilônia (Miqueias 4:10).
Uma das profecias mais famosas de Miqueias é a que aponta para o local de nascimento do futuro Rei Messias: "Mas tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. [...] Este será a nossa paz" (Miqueias 5:2, 5a). Esta passagem foi crucial para identificar Belém como o local de nascimento de Jesus (cf. Mateus 2:6).
No capítulo 6, Miqueias apresenta um "processo" ou disputa legal (uma *rîb*) de Deus contra Seu povo. Deus relembra Seus grandes atos de libertação (Êxodo, Balaão) e pergunta o que Ele requer em troca. Rejeitando a ideia de que meros rituais ou sacrifícios caros (mesmo de filhos) poderiam agradar a Deus, o profeta entrega a célebre síntese da verdadeira religião: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia [ou bondade leal - *hesed*], e andes humildemente com o teu Deus" (Miqueias 6:8).
O livro conclui (Miqueias 7) com um lamento pela condição pecaminosa do povo, mas reafirma a confiança do profeta na salvação e na luz do Senhor, mesmo em meio às trevas. Termina com uma bela doxologia que exalta o caráter incomparável de Deus, que perdoa a iniquidade e tem prazer na misericórdia, cumprindo as promessas feitas aos patriarcas Abraão e Jacó (Miqueias 7:18-20).