Miriã, filha de Anrão e Joquebede, e irmã mais velha de Moisés e Arão, desempenhou um papel crucial nos primeiros anos da história de Israel. Sua primeira aparição notável é no livro de Êxodo (capítulo 2), onde, ainda menina, vigia secretamente o cesto onde sua mãe havia colocado o bebê Moisés no rio Nilo, assegurando que ele fosse encontrado pela filha do Faraó. Sua inteligência e iniciativa a levaram a sugerir à princesa egípcia que uma ama hebréia (a própria mãe de Moisés) poderia cuidar do bebê, garantindo assim a sobrevivência e a educação inicial de seu irmão dentro de sua própria cultura.
Miriã ressurge na narrativa durante o Êxodo, após a miraculosa travessia do Mar Vermelho e a destruição do exército egípcio. Em Êxodo 15:20-21, ela é chamada de "profetisa" e lidera as mulheres de Israel em um cântico de louvor e dança ao Senhor, respondendo ao cântico de Moisés com as palavras: "Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro". Este episódio a estabelece como uma líder espiritual e uma figura profética entre as mulheres da comunidade israelita.
No entanto, a história de Miriã também inclui um episódio de falha. Em Números 12, junto com Arão, ela se opõe à autoridade de Moisés por causa de seu casamento com uma mulher cuxita. O texto sugere que a raiz da reclamação pode ter sido ciúme da liderança singular de Moisés e um desejo de maior reconhecimento para si e para Arão. Deus ouviu a murmuração e interveio diretamente, convocando os três irmãos à Tenda do Encontro. Ali, o Senhor afirmou a singularidade da comunicação com Moisés como Seu profeta escolhido. Como consequência de sua oposição, Miriã foi afligida com lepra e ficou branca como a neve por sete dias. Arão reconheceu o pecado e implorou a Moisés por perdão, que por sua vez intercedeu a Deus por sua irmã. Miriã foi curada, mas teve que permanecer fora do acampamento por sete dias, refletindo a seriedade de sua transgressão e servindo como um aviso contra a contestação da liderança divinamente estabelecida.
Miriã é mencionada novamente brevemente em Números 20:1, onde se registra sua morte e sepultamento em Cades, no deserto de Zim. Sua morte ocorre pouco antes da falta de água que leva ao pecado de Moisés em Meribá. Sua vida, com seus altos de liderança e profecia e seu baixo de rebelião e juízo, oferece um retrato complexo de uma mulher influente nos primórdios da nação de Israel. Sua memória é mantida como a da irmã que ajudou a salvar Moisés e que liderou o louvor a Deus após a libertação do Egito, mas também como um exemplo das consequências da inveja e da oposição à autoridade de Deus.