Neemias, filho de Hacalias, era um judeu que servia numa posição de alta confiança como copeiro do rei Artaxerxes I da Pérsia, na capital Susa. No vigésimo ano do reinado de Artaxerxes (c. 445/444 a.C.), seu irmão Hanani e outros homens de Judá lhe trouxeram notícias desoladoras sobre a condição de Jerusalém: os remanescentes do exílio estavam em grande miséria e desprezo, e os muros da cidade continuavam derribados e suas portas queimadas (Neemias 1).
Profundamente entristecido, Neemias chorou, jejuou e orou fervorosamente a Deus por vários dias, confessando os pecados de Israel e lembrando as promessas de Deus de reunir Seu povo se ele se arrependesse. Ele pediu a Deus que lhe concedesse favor diante do rei para poder agir (Neemias 1).
Meses depois, o rei notou a tristeza de Neemias e perguntou a causa. Com temor mas coragem, Neemias explicou a situação de Jerusalém e pediu permissão para ir reconstruir a cidade de seus pais. O rei não só concedeu permissão, mas também o nomeou governador (Tirsata) da província de Judá (Yehud), fornecendo-lhe cartas para passagem segura e uma ordem para obter madeira da floresta real para a reconstrução (Neemias 2:1-9).
Ao chegar a Jerusalém, Neemias fez uma inspeção noturna secreta das ruínas dos muros. Depois, reuniu os líderes judeus, sacerdotes e nobres, e os inspirou a começar a obra, declarando como Deus o havia guiado e o rei o havia apoiado. O povo respondeu com entusiasmo: "Levantemo-nos e edifiquemos!" (Neemias 2:11-18). Contudo, imediatamente surgiu oposição de líderes vizinhos hostis: Sanbalate, o horonita, Tobias, o oficial amonita, e Gesém, o árabe, que zombaram e acusaram os judeus de rebelião contra o rei (Neemias 2:19-20).
Neemias organizou a reconstrução de forma brilhante, dividindo o trabalho por seções do muro entre diferentes famílias e grupos da comunidade (Neemias 3). A oposição se intensificou com mais zombaria, ameaças e planos de ataque armado. Neemias respondeu com oração e estratégia: armou metade dos trabalhadores enquanto a outra metade continuava a obra, todos preparados para lutar ("com uma mão faziam a obra e com a outra seguravam a arma" - Neemias 4). Ele também enfrentou uma crise interna, repreendendo nobres e magistrados judeus que estavam explorando seus irmãos mais pobres através da usura, exigindo a restituição de terras e o cancelamento de dívidas (Neemias 5).
Os inimigos tentaram então táticas mais sutis: convidaram Neemias para encontros fora de Jerusalém (para emboscá-lo), espalharam falsos rumores de rebelião e contrataram falsos profetas (como Semaías e a profetisa Noadias) para intimidá-lo. Neemias discerniu as tramas e recusou-se a ceder ou a se esconder (Neemias 6:1-14). Apesar de toda a oposição, a reconstrução do muro foi concluída em apenas 52 dias, um feito notável que fez os inimigos temerem, reconhecendo que a obra fora feita com a ajuda de Deus (Neemias 6:15-16).
Após a segurança física ser restabelecida com a reconstrução dos muros e a instalação de guardas, Neemias trabalhou com o sacerdote e escriba Esdras na restauração espiritual e social da comunidade. Isso incluiu a leitura pública da Lei de Moisés por Esdras, que levou a grande comoção e arrependimento no povo, a celebração da Festa dos Tabernáculos conforme a Lei (Neemias 8), um dia solene de jejum e confissão nacional dos pecados (Neemias 9), e a assinatura de um pacto formal (uma *amaná*) pela qual os líderes e o povo se comprometiam a obedecer à Lei de Deus, incluindo não se casar com estrangeiros, guardar o sábado e sustentar o Templo e seus ministros (Neemias 10). Neemias também tomou medidas para repovoar Jerusalém (Neemias 7, 11) e liderou a dedicação festiva dos muros reconstruídos (Neemias 12).
Neemias serviu como governador por 12 anos, destacando-se por sua integridade e por não exigir o pesado imposto devido ao governador, sustentando sua grande casa com seus próprios recursos (Neemias 5:14-19). Ele retornou à Pérsia no 32º ano de Artaxerxes (c. 433 a.C.). Algum tempo depois, com permissão real, voltou a Jerusalém para um segundo mandato (data incerta). Encontrou novamente problemas que exigiram sua intervenção firme: Tobias, o amonita, havia recebido uma câmara dentro do Templo; os levitas não estavam recebendo suas porções e haviam abandonado o serviço; o sábado estava sendo profanado com comércio; e os casamentos mistos com mulheres estrangeiras haviam ressurgido. Neemias agiu decisivamente para corrigir esses abusos, purificando o Templo, restaurando o sustento dos levitas, reforçando a guarda do sábado e confrontando duramente aqueles envolvidos em casamentos mistos (Neemias 13). Seu livro termina com uma oração característica: "Lembra-te de mim, Deus meu, para o meu bem" (Neemias 13:31).