Tamar é apresentada em Gênesis 38 como a mulher escolhida por Judá, filho de Jacó, para se casar com seu primogênito, Er. Contudo, Er "foi mau aos olhos do SENHOR", e Deus o fez morrer (Gênesis 38:6-7). Seguindo o costume do levirato (ou um princípio semelhante para preservar o nome e a herança do falecido), Judá instruiu seu segundo filho, Onã, a se casar com Tamar e gerar descendência para seu irmão Er. Onã, porém, egoisticamente se recusou a cumprir plenamente o dever; ele se deitava com Tamar, mas evitava a concepção para que a descendência não fosse considerada sua. Sua ação foi má aos olhos do Senhor, que também o fez morrer (Gênesis 38:8-10).
Judá ficou então com apenas um filho mais novo, Selá. Talvez por superstição (temendo que Selá também morresse) ou por negligência, Judá disse a Tamar que voltasse à casa de seu pai como viúva e esperasse até que Selá crescesse. No entanto, mesmo depois de Selá se tornar adulto, Judá não cumpriu sua palavra e não o deu a Tamar por esposa (Gênesis 38:11, 14a).
Percebendo que lhe estava sendo negado seu direito de ter filhos dentro da família de seu falecido marido (o que era crucial para a segurança e status de uma viúva na época, além da continuidade da linhagem), Tamar tomou uma atitude drástica e controversa. Sabendo que Judá, agora viúvo, iria a Timna para a tosquia de suas ovelhas, ela tirou suas vestes de viuvez, cobriu-se com um véu, disfarçou-se e sentou-se à entrada de Enaim, no caminho de Timna. Judá, pensando que ela fosse uma prostituta (possivelmente uma prostituta cultual, *qedeshah*, embora o texto use *zonah*), não a reconheceu e teve relações com ela (Gênesis 38:12-18a).
Como pagamento, Judá prometeu enviar um cabrito, mas Tamar, astutamente, pediu um penhor até que o pagamento chegasse: o selo, o cordão e o cajado de Judá – itens pessoais e distintivos de identidade e autoridade. Ela concebeu de Judá naquela ocasião (Gênesis 38:18b-19).
Cerca de três meses depois, quando a gravidez de Tamar se tornou evidente, Judá foi informado e, hipocritamente (sem saber de seu próprio envolvimento), ordenou que ela fosse trazida e queimada por prostituição/adultério. Tamar, então, enviou os objetos que havia recebido como penhor a Judá, com a mensagem: "Do homem de quem são estas coisas eu concebi [...] Reconhece, peço-te, de quem é este selo, este cordão e este cajado" (Gênesis 38:24-25).
Ao reconhecer seus objetos pessoais, Judá percebeu a verdade e fez uma declaração pública notável: "Mais justa [*tsadeqah*] é ela do que eu, porquanto não a dei a Selá, meu filho" (Gênesis 38:26). Ele reconheceu que a ação extrema de Tamar foi motivada pela falha dele em cumprir sua obrigação para com ela segundo o costume e a justiça da época. O texto acrescenta que ele não teve mais relações com ela.
Tamar deu à luz filhos gêmeos: Perez (Farez) e Zerá. Durante o parto, Zerá estendeu a mão primeiro e a parteira amarrou um fio escarlate em seu pulso, mas ele a recolheu, e Perez nasceu primeiro, recebendo o nome que significa "Rompimento" ou "Brecha". Em seguida nasceu Zerá (Gênesis 38:27-30). É significativo que seja através de Perez, nascido desta união irregular, que a linhagem de Judá continuou, levando ao rei Davi e, finalmente, a Jesus Cristo (Rute 4:12, 18-22; Mateus 1:3; Lucas 3:33). A inclusão de Tamar na genealogia messiânica ressalta a soberania e a graça de Deus, que opera Seus planos redentores mesmo através de situações humanas complexas e moralmente ambíguas.