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Êxodo 11-13: Pessach - A Páscoa Judaica e Sua Rica Tradição de Liberdade

Mergulhe na história da Pessach, a Páscoa Judaica. Entenda seus rituais sagrados, como o Seder, e o simbolismo da libertação do Egito.

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Revisado por Equipe Bíblia Web

19/05/2025

Pessach: Uma Jornada de Libertação e Tradição Milenar

A Pessach, conhecida como a Páscoa Judaica, é uma das festas mais significativas e reverenciadas do calendário judaico. Comemorando a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, narrada no livro bíblico do Êxodo, esta celebração é um mergulho profundo na história, fé e tradição que moldaram a identidade judaica ao longo dos séculos. Mais do que uma simples recordação de um evento passado, a Pessach é uma vivência que se renova a cada ano, transmitindo valores de liberdade, esperança e resiliência.


A Origem: A Noite que Marcou a História (Êxodo 11-13)

Conforme o relato bíblico, a história da Pessach tem seu clímax na décima e última praga enviada por Deus sobre o Egito, que se recusava a libertar os israelitas. Esta praga consistia na morte de todos os primogênitos egípcios, tanto de humanos quanto de animais.

Para proteger os filhos de Israel, Deus instruiu Moisés a orientar cada família hebraica a sacrificar um cordeiro sem defeito. O sangue deste cordeiro deveria ser aspergido nos umbrais e na verga das portas de suas casas. Naquela noite fatídica, enquanto o anjo destruidor percorria o Egito ceifando a vida dos primogênitos, ele "passaria por cima" das casas marcadas com o sangue, poupando seus habitantes.

A Base da Pessach: A Décima Praga e o Livramento
Como proteção contra a décima praga – a matança de todas as crianças e animais primogênitos –, Deus diz aos israelitas para recolher o sangue de um cordeiro sacrificado e esfregá-lo nos batentes das portas de suas casas. Naquela noite, Deus, acompanhado de Seu anjo destruidor, passa pelos israelitas e mata os filhos primogênitos do Egito. Esse evento forma a base do feriado de Pessach.
Pessach (Passover)
O termo hebraico Pessach (פֶּסַח) significa "passar por cima" ou "poupar". Refere-se ao momento em que o anjo destruidor "passou por cima" das casas dos israelitas marcadas com o sangue do cordeiro, poupando seus primogênitos durante a décima praga no Egito. O termo em inglês Passover tem o mesmo significado e origem.

Diante da tragédia que se abateu sobre sua própria casa, com a morte de seu filho primogênito, o Faraó finalmente cedeu. Convocou Moisés e Aarão e ordenou que os israelitas partissem do Egito imediatamente. O povo hebreu, apressadamente, reuniu seus pertences, incluindo riquezas que receberam dos próprios egípcios temerosos, e iniciou sua jornada rumo à liberdade.

Êxodo
Palavra de origem grega (ἔξοδος) que significa "saída". Refere-se à partida apressada dos israelitas do Egito, marcando o fim de séculos de escravidão e o início de sua jornada como um povo livre em direção à Terra Prometida.

Os Pilares da Celebração: Seder, Matzá e o Haggadah

A celebração da Pessach é rica em rituais e simbolismos, sendo o Seder a cerimônia central. Realizado nas duas primeiras noites da festa (apenas na primeira em Israel e por judeus reformistas), o Seder é um banquete ritualístico que reconta a história da libertação através da leitura da Haggadah.

Seder (סֵדֶר)
Significa "ordem" em hebraico. É o nome dado ao serviço e banquete ritualístico que ocorre nas primeiras uma ou duas noites da Pessach. O Seder é estruturado e segue uma ordem específica de rituais, leituras e refeições, todos destinados a relembrar e reviver a experiência do Êxodo.
Haggadah (הַגָּדָה)
Significa "narração" ou "relato" em hebraico. É o texto judaico que estabelece a ordem do Seder da Pessach. A leitura da Haggadah à mesa do Seder é um cumprimento da mitsvá (mandamento) bíblica de contar aos filhos a história da libertação do Egito.
Matzá (מַצָּה) e Chametz (חָמֵץ)
A Matzá é o pão ázimo (não fermentado) feito apenas de farinha e água, assado rapidamente. É o único tipo de "pão" permitido durante a Pessach e simboliza a pressa com que os israelitas deixaram o Egito, sem tempo para que a massa fermentasse. Durante os sete ou oito dias da Pessach, é estritamente proibido consumir ou mesmo possuir qualquer alimento fermentado feito de um dos cinco grãos principais (trigo, cevada, centeio, aveia ou espelta), conhecido como chametz. Esta prática envolve uma limpeza ritual e minuciosa da casa antes do início da festa para remover qualquer vestígio de chametz.

A mesa do Seder é adornada com pratos simbólicos que representam diferentes aspectos da história do Êxodo:

Itens Simbólicos da Keará (Travessa do Seder)
  • Matzá (מַצָּה): Três matzot são colocadas na mesa, representando os Cohen (sacerdotes), Levitas e Israelitas; ou, segundo outra tradição, Abraão, Isaac e Jacó. Simboliza o pão da aflição e o pão da liberdade.
  • Maror (מָרוֹר): Ervas amargas (como raiz forte, escarola ou alface romana) que simbolizam a amargura e a dureza da escravidão no Egito.
  • Charosset (חֲרֹסֶת): Uma pasta doce feita de frutas (maçãs, peras), nozes, especiarias e vinho tinto. Sua cor e textura lembram a argamassa que os escravos israelitas usavam para fazer tijolos no Egito.
  • Karpas (כַּרְפַּס): Um vegetal (geralmente salsão, batata cozida ou salsa) que é mergulhado em água salgada (representando as lágrimas dos escravos) antes de ser comido. Simboliza também a primavera e o renascimento.
  • Zeroá (זְרוֹעַ): Um osso de cordeiro (ou galinha) tostado. Representa o cordeiro pascal (Korban Pessach) que era sacrificado no Templo de Jerusalém. Não é comido durante o Seder.
  • Beitzá (בֵּיצָה): Um ovo cozido e, por vezes, levemente tostado. Simboliza o Korban Chagigah (oferta festiva) que era trazida ao Templo. Também representa o luto pela destruição do Templo e a natureza cíclica da vida, morte e renascimento.
Tradições Interativas do Seder
Durante o Seder, é uma tradição fundamental que as crianças (e todos os presentes) participem ativamente. A criança mais nova, ou uma designada para tal, recita o Ma Nishtaná (מַה נִּשְׁתַּנָּה) – "Por que esta noite é diferente de todas as outras noites?" – que consiste em quatro perguntas sobre os rituais da Pessach. Esta prática estimula a curiosidade, a discussão e a transmissão da história e dos significados da festa de geração em geração. Além disso, quatro copos de vinho (ou suco de uva) são bebidos em momentos específicos do Seder, cada um simbolizando uma das quatro expressões de redenção prometidas por Deus ao povo de Israel (Êxodo 6:6-7).

Significado e Relevância Contínua

A Pessach transcende a simples recordação histórica. É uma celebração da liberdade em seu sentido mais amplo: liberdade física da escravidão, liberdade espiritual da idolatria e assimilação, e liberdade nacional como um povo com sua própria identidade e destino. A festa convida à reflexão sobre a opressão em todas as suas formas, tanto históricas quanto contemporâneas, e a importância de lutar ativamente pela justiça, pela dignidade humana e pelos direitos dos oprimidos em toda parte.

A Mensagem Perene da Libertação
A mensagem central e duradoura da Pessach é a da esperança inabalável e da crença profunda na redenção. Assim como os israelitas foram milagrosamente libertados da amarga escravidão no Egito, a Pessach inspira indivíduos e comunidades a buscarem continuamente a superação das adversidades, dos desafios pessoais e coletivos, e a trabalharem pela construção de um futuro mais justo e luminoso. A cada ano, ao se reunirem à mesa do Seder, os judeus de todo o mundo não apenas relembram um evento fundacional do passado, mas também reafirmam seu compromisso vitalício com os valores sagrados de liberdade, fé, responsabilidade social e comunidade. É um convite universal a reconhecer as "escravidões" modernas – sejam elas sociais, econômicas, psicológicas ou espirituais – e a buscar ativamente a libertação individual e coletiva, tornando a poderosa mensagem da Pessach eternamente relevante e profundamente transformadora, assegurando que a história e as profundas lições do Êxodo continuem a ecoar e a inspirar as futuras gerações.

Referências Bíblicas Fundamentais sobre a Pessach
  • Êxodo (Shemot) Capítulos 11-13: Narra a instituição da Pessach, as instruções para o sacrifício pascal, a décima praga e a saída apressada do Egito.
  • Levítico (Vayikrá) Capítulo 23:4-8: Descreve as festas do Senhor, incluindo a Pessach e a Festa dos Pães Ázimos (Chag HaMatzot), e suas observâncias.
  • Números (Bamidbar) Capítulo 9:1-14: Apresenta instruções sobre a "Segunda Pessach" (Pessach Sheni) para aqueles que estavam impuros ou em viagem distante e não puderam celebrar na data original.
  • Deuteronômio (Devarim) Capítulo 16:1-8: Reitera as leis da Pessach, enfatizando a lembrança da saída do Egito e a centralidade do local escolhido por Deus para o sacrifício.

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