Abisague, a Sunamita (da cidade de Suném, no território de Issacar), entra na narrativa bíblica nos últimos dias do Rei Davi (1 Reis 1). Davi estava muito velho e, apesar de coberto com roupas, não conseguia se aquecer. Seus servos sugeriram encontrar uma jovem virgem que pudesse assistir o rei, cuidar dele e deitar-se ao seu lado para aquecê-lo (1 Reis 1:1-2).
Buscaram por todo o território de Israel e encontraram Abisague, descrita como "sobremaneira formosa". Ela foi trazida ao rei e passou a servi-lo e a cuidar dele. O texto bíblico enfatiza: "Porém o rei não a conheceu" (1 Reis 1:3-4), indicando que não houve relações sexuais entre eles, embora ela fizesse parte de seu círculo íntimo de cuidados.
Sua presença no palácio durante a velhice e morte de Davi a colocou, involuntariamente, no centro de uma intriga política logo após Salomão assumir o trono. Adonias, filho mais velho de Davi (depois da morte de Absalão), que havia tentado usurpar o trono antes de Salomão ser coroado, aproximou-se de Bate-Seba, mãe de Salomão. Ele pediu que ela intercedesse junto ao rei Salomão para que lhe fosse dada Abisague, a Sunamita, por mulher (1 Reis 2:13-18).
Aparentemente um pedido simples, foi interpretado por Salomão com grande perspicácia política. No antigo Oriente Próximo, tomar posse do harém (ou de uma mulher associada ao harém) do rei anterior era visto como um ato de reivindicação do trono ou de fortalecimento de uma pretensão à realeza.
Salomão percebeu imediatamente a implicação do pedido de Adonias. Sua resposta a Bate-Seba foi irada: "E por que pedes Abisague, a sunamita, para Adonias? Pede também para ele o reino..." (1 Reis 2:22). Vendo o pedido como um ato de traição e uma ameaça contínua à sua soberania recém-estabelecida, Salomão jurou que Adonias morreria naquele mesmo dia e ordenou a Benaia que o executasse (1 Reis 2:23-25).
Abisague mesma não tem voz na narrativa sobre o pedido de Adonias. Ela é o objeto da intriga, uma figura silenciosa cujo valor simbólico como última serva/companheira de Davi a tornou um peão perigoso no jogo de poder da sucessão.
A Bíblia não menciona mais nada sobre seu destino após a execução de Adonias. Sua história ilustra a vulnerabilidade das mulheres na corte e a natureza implacável das lutas pelo poder real na antiguidade.