Cornélio era um centurião (oficial romano comandando cerca de 100 soldados) da Coorte chamada Italiana, estacionado em Cesareia Marítima, a capital administrativa romana da província da Judeia. Atos 10:2 o descreve como um gentio “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus”. Ele pertencia ao grupo conhecido como “tementes a Deus”, gentios que adoravam o Deus de Israel e seguiam preceitos éticos judaicos, mas sem se converterem formalmente ao judaísmo (o que envolveria a circuncisão).
Certo dia, por volta da hora nona (3 da tarde, hora tradicional de oração), Cornélio teve uma visão clara de um anjo de Deus que o chamou pelo nome e lhe disse que suas orações e esmolas haviam subido como memorial diante de Deus. O anjo o instruiu a enviar homens à cidade portuária de Jope para buscar Simão, também chamado Pedro, que estava hospedado na casa de um curtidor chamado Simão, junto ao mar (Atos 10:1-8). Cornélio obedeceu imediatamente, enviando dois de seus servos e um soldado piedoso.
Enquanto os mensageiros viajavam, Pedro, em Jope, também teve uma visão divina tríplice. Viu um grande lençol descendo do céu contendo todos os tipos de animais considerados impuros pela lei judaica e ouviu uma voz ordenando: “Levanta-te, Pedro! Mata e come”. Pedro recusou, citando sua observância da lei dietética. A voz respondeu: “Ao que Deus purificou não consideres comum”. Esta visão preparou Pedro para o que estava por vir (Atos 10:9-16). Assim que a visão terminou, os homens de Cornélio chegaram à porta, guiados pelo Espírito Santo, que também instruiu Pedro a ir com eles sem hesitar (Atos 10:17-23).
Em Cesareia, Cornélio reuniu parentes e amigos íntimos. Ao encontrar Pedro, prostrou-se, mas Pedro o levantou, dizendo: “Levanta-te, que eu também sou homem” (Atos 10:24-26). Pedro então pregou reconhecendo que “Deus não faz acepção de pessoas” e proclamou o evangelho de Jesus Cristo (Atos 10:34-43). Enquanto ele ainda falava, “caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra” (Atos 10:44), levando Pedro a ordenar que fossem batizados em nome de Jesus Cristo (Atos 10:45-48).
Este acontecimento tornou-se um marco decisivo: Pedro teve de defender suas ações perante a igreja em Jerusalém; ao relatar as visões e o derramamento do Espírito, os irmãos reconheceram que “também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida” (Atos 11:1-18). A experiência de Cornélio estabeleceu o precedente de que Deus aceita judeus e gentios pela mesma fé, tema que Pedro retomou no Concílio de Jerusalém (Atos 15).