Estêvão surge na narrativa da Igreja Primitiva em Jerusalém, no Livro de Atos, capítulo 6. Ele era um judeu helenista (de fala grega) e foi um dos sete homens "de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria" escolhidos pelos apóstolos para supervisionar a distribuição diária de alimentos às viúvas, resolvendo uma disputa entre os crentes helenistas e hebreus (Atos 6:1-6). Estêvão é destacado entre os Sete como "homem cheio de fé e do Espírito Santo" e, subsequentemente, "cheio de graça e poder", que "fazia prodígios e grandes sinais entre o povo" (Atos 6:5, 8).
Seu ministério eficaz e sua sabedoria ao debater com membros de várias sinagogas de judeus helenistas (Libertinos, Cireneus, Alexandrinos, etc.) provocaram forte oposição. Incapazes de refutar seus argumentos, seus opositores subornaram homens para acusá-lo falsamente de blasfêmia contra Moisés e contra Deus, especificamente contra o Templo e a Lei (Atos 6:9-14). Estêvão foi então preso e levado perante o Sinédrio (o supremo conselho judaico).
Diante do Sinédrio, o rosto de Estêvão brilhava "como o rosto de um anjo" (Atos 6:15). Questionado pelo sumo sacerdote, ele proferiu um longo e poderoso discurso (registrado em Atos 7), que recontou a história de Israel desde Abraão, passando por José, Moisés e Salomão. O discurso não foi tanto uma defesa contra as acusações, mas uma reinterpretação da história de Israel à luz de Cristo, destacando a contínua resistência do povo à liderança de Deus e aos Seus profetas (especialmente Moisés, a quem acusavam Estêvão de desrespeitar) e relativizando a centralidade absoluta do Templo físico. Ele culminou acusando diretamente os membros do Sinédrio: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo [Jesus], do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos" (Atos 7:51-52).
Enfurecidos com suas palavras, os membros do conselho rangeram os dentes contra ele. Nesse momento, Estêvão, "cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus", e declarou: "Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus" (Atos 7:55-56). Esta visão do Cristo exaltado foi a confirmação final para seus acusadores.
Eles, tapando os ouvidos e gritando, arrastaram Estêvão para fora da cidade e o apedrejaram. As testemunhas (requeridas pela Lei para iniciar a execução) depositaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo (que mais tarde se tornaria o apóstolo Paulo), que consentia na morte de Estêvão (Atos 7:57-58; 8:1; 22:20). Enquanto era apedrejado, Estêvão fez duas orações semelhantes às de Jesus na cruz: primeiro, pediu a Jesus para receber seu espírito ("Senhor Jesus, recebe o meu espírito!") e depois, de joelhos, clamou em alta voz pelo perdão de seus assassinos ("Senhor, não lhes imputes este pecado!"). Tendo dito isso, adormeceu (morreu) (Atos 7:59-60).
Sua morte marcou o início de uma "grande perseguição contra a igreja em Jerusalém", forçando muitos crentes (exceto os apóstolos) a se dispersarem pelas regiões da Judeia e Samaria, o que paradoxalmente ajudou a espalhar o evangelho (Atos 8:1, 4). Estêvão é lembrado como o protomártir (primeiro mártir) cristão, um exemplo de fé, coragem, serviço e perdão.