Pôncio Pilatos foi o governador romano (com título de Prefeito ou Procurador) da província da Judeia por aproximadamente dez anos (c. 26-36/37 d.C.), durante o reinado do imperador Tibério. Sendo da ordem equestre romana e pertencente à gens Pontia, ele era responsável por manter a ordem, administrar a justiça (incluindo a pena capital) e coletar impostos na turbulenta província.
Fontes históricas não-bíblicas, como os escritos de Flávio Josefo e Filo de Alexandria, retratam Pilatos como um governador muitas vezes inflexível, insensível às tradições religiosas judaicas e propenso a usar a força bruta, o que gerou vários conflitos com a população local durante seu mandato (por exemplo, introduzindo estandartes romanos com imagens imperiais em Jerusalém e usando fundos do Templo para construir um aqueduto).
Sua aparição mais significativa na história ocorre nos quatro Evangelhos canônicos, onde ele preside o julgamento final de Jesus Cristo. Após Jesus ser condenado por blasfêmia pelo Sinédrio (o conselho judaico), os líderes religiosos O levaram a Pilatos, pois apenas a autoridade romana podia executar a pena de morte. Eles apresentaram acusações políticas contra Jesus: perverter a nação, proibir o pagamento de tributos a César e afirmar ser Cristo, um rei (Lucas 23:1-2).
Pilatos interrogou Jesus, focando na acusação de realeza ("És tu o Rei dos Judeus?"). O diálogo registrado por João (18:33-38) revela a natureza espiritual e não-ameaçadora (para Roma) do reino de Jesus. Pilatos pareceu perceber a inocência de Jesus em relação às acusações políticas e declarou múltiplas vezes não encontrar Nele crime algum (Lucas 23:4, 14, 22; João 18:38; 19:4, 6).
Tentando evitar uma decisão definitiva e talvez apaziguar os acusadores, Pilatos usou de subterfúgios. Enviou Jesus a Herodes Antipas (tetrarca da Galileia), que estava em Jerusalém, mas Herodes o devolveu (Lucas 23:6-12). Tentou usar o costume pascal de soltar um prisioneiro, oferecendo à multidão a escolha entre Jesus e Barrabás (um rebelde e assassino), esperando que escolhessem Jesus, mas a multidão, incitada pelos principais sacerdotes, clamou pela libertação de Barrabás e pela crucificação de Jesus (Mateus 27:15-23; Marcos 15:6-14; Lucas 23:13-23; João 18:39-40).
A esposa de Pilatos também interveio, enviando-lhe uma mensagem para não se envolver com "esse justo", pois ela havia sofrido muito em sonho por causa dele (Mateus 27:19).
No entanto, diante da pressão crescente da multidão e da ameaça velada dos líderes judeus ("Se soltas a este, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei é contra César" - João 19:12), Pilatos cedeu. Para se eximir simbolicamente da responsabilidade, Mateus registra que ele lavou as mãos diante da multidão, dizendo: "Estou inocente do sangue deste justo; fique o caso convosco!" (Mateus 27:24). Ele então ordenou que Jesus fosse flagelado (uma tortura brutal) e O entregou para ser crucificado (Mateus 27:26; Marcos 15:15; Lucas 23:23-25; João 19:1, 16).
Pilatos ainda teve uma última interação notável: ordenou que se colocasse na cruz uma inscrição (o *titulus crucis*) indicando o motivo da condenação: "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus", escrita em hebraico, latim e grego. Quando os principais sacerdotes protestaram, pedindo que alterasse para "Ele disse: Sou o Rei dos Judeus", Pilatos respondeu firmemente: "O que escrevi, escrevi" (João 19:19-22).
Após a morte de Jesus, Pilatos concedeu permissão a José de Arimateia para retirar o corpo e sepultá-lo (Marcos 15:42-45) e, posteriormente, atendeu ao pedido dos líderes judeus para colocar uma guarda romana no túmulo (Mateus 27:62-66).
Segundo Josefo, Pilatos foi posteriormente chamado de volta a Roma pelo legado da Síria, Vitélio, por volta de 36/37 d.C., após uma repressão violenta a um movimento samaritano no Monte Gerizim. Seu destino final é desconhecido historicamente, embora muitas lendas tenham surgido. Pilatos permanece na história como o oficial romano que, apesar de suas dúvidas sobre a culpa de Jesus, sancionou Sua execução por razões de conveniência política e temor popular.