Raabe vivia na cidade cananeia murada de Jericó na época em que os israelitas, liderados por Josué, preparavam-se para iniciar a conquista da Terra Prometida. Ela é identificada no texto como uma prostituta (*zonah*) (Josué 2:1). Sua casa, significativamente, estava localizada sobre ou integrada à própria muralha da cidade.
Quando Josué enviou dois espias secretamente para reconhecer Jericó, eles entraram na cidade e se hospedaram na casa de Raabe. O rei de Jericó foi informado da presença dos espias e enviou soldados para prendê-los na casa dela. Raabe, porém, agiu rapidamente: escondeu os homens no terraço, sob feixes de linho, e despistou os perseguidores do rei, mentindo que os espias já haviam partido ao anoitecer (Josué 2:2-7).
Após os soldados saírem, Raabe subiu ao terraço e teve uma conversa crucial com os espias. Ela revelou que o povo de Jericó estava apavorado por causa dos israelitas, tendo ouvido sobre as vitórias que Deus lhes dera (a travessia do Mar Vermelho, a derrota dos reis amorreus Seom e Ogue). Sua declaração de fé é notável para uma cananeia: "Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra [...] porque o SENHOR, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra" (Josué 2:9, 11). Baseada nessa fé, ela pediu aos espias que jurassem pelo Senhor que, assim como ela usou de misericórdia (*hesed*) com eles, eles poupariam a vida dela e de toda a sua família (pai, mãe, irmãos e parentes) quando Israel tomasse a cidade (Josué 2:12-13).
Os espias concordaram e fizeram um juramento, estabelecendo as condições: ela deveria manter segredo sobre a missão deles e exibir um cordão de fio escarlate na janela pela qual os ajudaria a escapar. Toda a sua família deveria estar reunida dentro de sua casa durante o ataque para ser salva (Josué 2:14-21). Raabe então os ajudou a descer por uma corda pela janela de sua casa na muralha e os aconselhou a se esconderem nas montanhas por três dias antes de retornarem a Josué.
Quando os israelitas conquistaram Jericó de forma miraculosa (após marcharem ao redor da cidade e as muralhas ruírem ao som das trombetas e do grito do povo - Josué 6), Josué deu ordens específicas para cumprir o juramento feito a Raabe. Os dois espias foram encarregados de entrar na casa dela (identificada pelo cordão escarlate) e tirar de lá Raabe e toda a sua família em segurança, antes que a cidade fosse totalmente destruída e queimada como anátema (*herem*) ao Senhor. Raabe e seus parentes foram colocados fora do acampamento israelita inicialmente (provavelmente por questões de pureza ritual ou assimilação gradual) e, segundo o texto, "habitou [Raabe] no meio de Israel até ao dia de hoje" (Josué 6:17, 22-25), indicando sua plena integração ao povo da aliança.
Sua história não termina aí. O Novo Testamento a destaca de forma proeminente. Mateus 1:5 a inclui na genealogia de Jesus Cristo, registrando que "Salmom gerou de Raabe a Boaz". Isso a torna esposa de um israelita da tribo de Judá e ancestral direta de Boaz (que se casou com Rute), do Rei Davi e do próprio Jesus. Hebreus 11:31 a elogia como um exemplo de fé: "Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz os espias". Tiago 2:25 a usa como exemplo de justificação pelas obras que demonstram a fé: "De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?". Assim, a cananeia Raabe, apesar de seu passado, tornou-se um símbolo da fé que age e da graça de Deus que salva e incorpora gentios em Seu povo e em Sua linhagem redentora.