Herodes I, conhecido como "o Grande", não era de linhagem israelita, mas Idumeu (descendente de Esaú), filho de Antípatro. Sua família se converteu ao judaísmo, mas ele sempre foi visto com suspeita por muitos judeus. Com grande habilidade política e o apoio crucial de Roma (primeiro Marco Antônio, depois Otaviano Augusto), foi nomeado Rei da Judeia pelo Senado Romano em 40 a.C. e consolidou seu poder militarmente em 37 a.C., encerrando o domínio da dinastia Hasmoneana.
Seu longo reinado (37-4 a.C.) foi marcado por uma dualidade impressionante. Por um lado, foi um administrador competente e um construtor monumental. Ele garantiu um período de relativa paz externa sob o domínio romano, desenvolveu a economia e realizou projetos arquitetônicos grandiosos que transformaram a Judeia. O mais famoso foi a massiva reconstrução e expansão do Segundo Templo em Jerusalém, tornando-o uma das maravilhas do mundo antigo. Construiu também a cidade portuária de Cesareia Marítima, reconstruiu Samaria (chamando-a Sebaste), e ergueu palácios-fortalezas imponentes como Masada, Herodium (onde foi sepultado) e Maqueronte.
Por outro lado, seu reinado foi caracterizado por uma tirania brutal e uma paranoia crescente. Para manter o poder, ele eliminou impiedosamente qualquer rival percebido, incluindo os últimos descendentes Hasmoneus, membros da aristocracia judaica, e até mesmo sua amada esposa Mariamne I (a Hasmoneana) e três de seus próprios filhos (Alexandre, Aristóbulo e Antípatro). Seu governo era opressivo em muitos aspectos, e suas tentativas de promover a cultura helenística ofendiam as sensibilidades religiosas judaicas.
É neste contexto de poder, grandiosidade e crueldade que o Evangelho de Mateus (capítulo 2) o insere na história do nascimento de Jesus. Magos do Oriente chegaram a Jerusalém perguntando pelo recém-nascido "Rei dos Judeus", cuja estrela haviam visto. Herodes, "perturbado" com a notícia de um potencial rival, consultou os principais sacerdotes e escribas, que identificaram Belém como o local profetizado para o nascimento do Messias. Fingindo querer adorar o menino, Herodes instruiu os Magos a encontrarem a criança e o informarem. Avisados por Deus em sonho para não retornarem a Herodes, os Magos voltaram para sua terra por outro caminho.
Ao perceber que fora enganado, Herodes "enfureceu-se terrivelmente" e, num ato de crueldade extrema e paranoia, ordenou a matança de todos os meninos de Belém e arredores, de dois anos para baixo, na tentativa de eliminar a ameaça ao seu trono (o Massacre dos Inocentes). José, avisado em sonho, já havia fugido com Maria e o menino Jesus para o Egito.
Herodes morreu pouco depois desses eventos, em 4 a.C., vítima de uma doença dolorosa e debilitante, conforme descrito em detalhes pelo historiador Flávio Josefo. Após sua morte, seu reino foi dividido por Roma entre três de seus filhos: Arquelau (Judeia, Samaria, Idumeia), Herodes Antipas (Galileia, Pereia) e Filipe II (Itureia, Traconites). A figura de Herodes, o Grande, permanece como um exemplo de poder mundano, ambição arquitetônica e tirania implacável, servindo como o pano de fundo sombrio para o nascimento do verdadeiro Rei, Jesus Cristo.