Zacarias era um sacerdote judeu pertencente à turma (ou ordem sacerdotal) de Abias, uma das 24 divisões estabelecidas para o serviço no Templo de Jerusalém. Ele era casado com Isabel, que também era descendente de Arão, ou seja, de linhagem sacerdotal. Lucas os descreve como "justos diante de Deus, andando irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos do Senhor" (Lucas 1:5-6). Apesar de sua piedade, eles eram idosos e não tinham filhos, pois Isabel era estéril (Lucas 1:7).
Quando chegou a vez de sua turma ministrar, Zacarias foi escolhido por sorteio para entrar no Santo Lugar do Templo e oferecer incenso, uma honra rara e solene. Enquanto o povo orava do lado de fora, o anjo Gabriel apareceu a Zacarias, postado à direita do altar de incenso. Gabriel anunciou que sua oração fora ouvida: Isabel daria à luz um filho, que deveria se chamar João.
Este filho seria grande diante do Senhor, não beberia vinho nem bebida forte, seria cheio do Espírito Santo desde o ventre materno e teria a missão de converter muitos em Israel ao Senhor, indo adiante Dele "no espírito e poder de Elias", preparando um povo bem disposto (Lucas 1:8-17).
Diante dessa promessa extraordinária, Zacarias, considerando sua idade avançada e a de sua esposa, expressou dúvida: "Como saberei isto? Pois eu sou velho, e minha mulher, avançada em dias" (Lucas 1:18). Por causa de sua incredulidade na palavra divina transmitida pelo anjo, Gabriel declarou que ele ficaria mudo e incapaz de falar até que as coisas anunciadas se cumprissem (Lucas 1:19-20).
Zacarias saiu do Templo sem poder falar, e o povo compreendeu que ele tivera uma visão (Lucas 1:21-22). Após completar seus dias de serviço, Zacarias voltou para casa, e sua esposa Isabel concebeu, conforme a promessa (Lucas 1:23-24). Ele permaneceu mudo durante toda a gravidez de Isabel, inclusive durante a visita de Maria (Lucas 1:39-56).
Quando Isabel deu à luz João, no oitavo dia, durante a cerimônia de circuncisão, os parentes e vizinhos quiseram dar ao menino o nome do pai, Zacarias. Isabel, porém, instruída divinamente ou por seu marido através de sinais, insistiu: "Não! Pelo contrário, chamar-se-á João" (Lucas 1:59-60).
Como houve discordância, consultaram Zacarias, ainda mudo. Ele pediu uma tabuinha de escrever e escreveu as palavras: "O nome dele é João", para espanto de todos (Lucas 1:61-63). Imediatamente após confirmar o nome divinamente escolhido, "abriu-se-lhe a boca e, desimpedida a língua, falava, louvando a Deus" (Lucas 1:64).
Então, cheio do Espírito Santo, Zacarias proferiu uma longa e bela profecia, conhecida como o Benedictus (Lucas 1:67-79). Neste hino, ele louva a Deus pela fidelidade à aliança e pela salvação que estava sendo trazida por meio da "casa de Davi", referindo-se a Jesus, e descreve a missão de seu próprio filho, João: "profeta do Altíssimo", enviado para preparar o caminho do Senhor e dar ao povo o conhecimento da salvação.
Após este evento, Zacarias não é mais mencionado. Sua história serve como introdução ao nascimento de João Batista, destacando a fidelidade de Deus às Suas promessas, a importância do sacerdócio e do Templo na expectativa messiânica, e o contraste entre a dúvida humana e o poder da palavra de Deus, culminando em louvor e profecia inspirados pelo Espírito Santo.