Lucas é tradicionalmente identificado como o autor do terceiro Evangelho e do Livro de Atos dos Apóstolos, que juntos formam uma obra em dois volumes (Lucas-Atos) dedicada a um certo "excelentíssimo Teófilo" (Lucas 1:1-4; Atos 1:1). Embora ele não se nomeie diretamente em seus escritos, evidências internas (como as seções "nós" em Atos, onde o autor se inclui no grupo de Paulo) e o testemunho consistente da Igreja Primitiva (desde o século II, com Irineu e o Cânon Muratoriano) apontam para Lucas.
Paulo o menciona três vezes em suas epístolas: em Colossenses 4:14 como "Lucas, o médico amado"; em Filemom 1:24 como um de seus "cooperadores"; e em 2 Timóteo 4:11, onde Paulo, próximo ao martírio em Roma, diz: "Somente Lucas está comigo". Isso revela sua profissão, sua relação próxima e leal com Paulo, e sua presença com o apóstolo mesmo nos momentos mais difíceis.
A maioria dos estudiosos acredita que Lucas era gentio, possivelmente grego, talvez de Antioquia da Síria (conforme tradição posterior). Paulo parece distingui-lo dos seus colaboradores judeus em Colossenses 4:10-14. Isso faria dele o único autor gentio de livros da Bíblia, o que se alinha com a perspectiva universalista proeminente em seus escritos, com forte ênfase na inclusão dos gentios no plano de salvação de Deus.
Lucas não foi uma testemunha ocular do ministério terreno de Jesus. Ele mesmo declara no prólogo de seu Evangelho que baseou seu relato em pesquisa cuidadosa, investigando as informações transmitidas por "aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra" (Lucas 1:2). Isso o posiciona como um historiador meticuloso da primeira geração pós-apostólica.
As seções "nós" em Atos (Atos 16:10-17; 20:5–21:18; 27:1–28:16) indicam que Lucas se juntou a Paulo em Trôade durante a segunda viagem missionária, viajou com ele para Filipos, e mais tarde o acompanhou de Filipos a Jerusalém no final da terceira viagem. Crucialmente, ele também esteve com Paulo durante a perigosa viagem marítima a Roma como prisioneiro, incluindo o naufrágio em Malta. Essa participação pessoal confere vivacidade e credibilidade a essas partes da narrativa de Atos.
O Evangelho de Lucas é conhecido por sua narrativa ordenada, seu grego elegante, seu interesse em detalhes históricos e geográficos, e suas ênfases teológicas particulares: a obra do Espírito Santo, a importância da oração, a alegria e o louvor, a compaixão de Jesus pelos pobres, marginalizados, pecadores, mulheres e gentios, e a universalidade do plano de salvação. Ele inclui parábolas e histórias únicas, como o Bom Samaritano, o Filho Pródigo e o encontro na estrada de Emaús.
O Livro de Atos continua a narrativa, descrevendo a ascensão de Jesus, o Pentecostes e a expansão da igreja de Jerusalém para a Judeia, Samaria e até os confins da terra (representados por Roma), focando nos ministérios de Pedro (primeira parte) e principalmente de Paulo (segunda parte). Atos enfatiza o poder do Espírito Santo impulsionando a missão da igreja e superando barreiras culturais e geográficas.
Lucas, através de seus escritos inspirados, forneceu à Igreja um fundamento histórico e teológico inestimável sobre Jesus e o nascimento do movimento cristão. Sua lealdade a Paulo e sua dedicação à verdade histórica o estabelecem como uma figura chave no Novo Testamento.