Tiago é identificado nos Evangelhos como um dos "irmãos" de Jesus, junto com José (ou Joses), Simão e Judas, além de irmãs não nomeadas (Mateus 13:55-56; Marcos 6:3). A natureza exata desse parentesco é debatida (meio-irmãos mais novos de Jesus, filhos de Maria e José; enteados de Jesus, filhos de José de um casamento anterior; ou primos). Durante o ministério terreno de Jesus, Tiago e seus outros irmãos não pareciam crer em Sua messianidade (João 7:5) e até demonstraram preocupação com Seu bem-estar mental (Marcos 3:21).
Contudo, uma transformação radical ocorreu após a ressurreição de Jesus. O apóstolo Paulo menciona especificamente que o Cristo ressurreto apareceu "depois, a Tiago" (1 Coríntios 15:7), uma aparição pessoal que provavelmente foi o catalisador para sua conversão e posterior proeminência. Embora não esteja claro se ele estava entre os "irmãos" que oravam com os apóstolos e Maria imediatamente após a Ascensão (Atos 1:14), ele rapidamente emergiu como a figura de liderança central na igreja de Jerusalém, a igreja-mãe.
Sua liderança é evidente em vários pontos do Livro de Atos. Quando Pedro foi milagrosamente liberto da prisão, ele instruiu os crentes a "anunciai isto a Tiago e aos irmãos" (Atos 12:17), indicando a posição de Tiago. Seu papel mais crucial foi no Concílio de Jerusalém (c. 49 d.C.), registrado em Atos 15. Após Pedro e Paulo/Barnabé relatarem a obra de Deus entre os gentios, Tiago, como líder do concílio, proferiu o discurso final. Ele confirmou a inclusão dos gentios com base nas Escrituras (citando Amós 9), mas propôs um decreto conciliatório pedindo aos gentios convertidos que se abstivessem de certas práticas (ídolos, imoralidade sexual, carne sufocada, sangue) para facilitar a comunhão com os crentes judeus, sem impor o fardo da circuncisão ou da lei cerimonial mosaica (Atos 15:13-21). Sua decisão foi aceita e comunicada às igrejas.
Paulo também reconheceu a autoridade de Tiago. Em Gálatas, ele menciona ter se encontrado com Tiago ("o irmão do Senhor", a quem chama de apóstolo em sentido amplo) em sua primeira visita a Jerusalém após sua conversão (Gálatas 1:19). Mais tarde, descreve Tiago, junto com Pedro (Cefas) e João, como "colunas" da igreja, que lhe deram a destra de comunhão para ir aos gentios (Gálatas 2:9). No entanto, Gálatas 2:11-14 também relata um incidente em Antioquia onde a chegada de "alguns da parte de Tiago" levou Pedro a se separar dos gentios, ato que Paulo repreendeu como hipocrisia (isso não implica que Tiago ordenou a separação, mas que o grupo vindo de Jerusalém era associado a ele e à ala mais judaizante).
Na visita final de Paulo a Jerusalém, ele se reportou a Tiago e a todos os presbíteros da igreja (Atos 21:18). Tiago e os presbíteros, cientes das preocupações dos judeus cristãos sobre a atitude de Paulo em relação à Lei, aconselharam Paulo a participar de um ritual de purificação no Templo com quatro homens que tinham um voto, para demonstrar que ele mesmo ainda respeitava os costumes judaicos.
Tiago é tradicionalmente considerado o autor da Epístola de Tiago no Novo Testamento. Esta carta, dirigida "às doze tribos que se encontram na Dispersão", tem um forte caráter ético e prático, com muitos ecos do Sermão da Montanha e da literatura de sabedoria judaica. Enfatiza a necessidade de perseverança nas provações, sabedoria divina, controle da língua, cuidado com os pobres, e, crucialmente, a demonstração da fé genuína através de obras práticas ("a fé sem obras é morta" - Tiago 2:26).
Seu fim foi o martírio em Jerusalém. O historiador judeu Flávio Josefo relata que, durante um interregno entre governadores romanos (após a morte de Festo e antes da chegada de Albino, c. 62 d.C.), o sumo sacerdote Anano II (um saduceu) aproveitou a oportunidade para acusar Tiago e outros líderes cristãos de violarem a Lei e os condenou ao apedrejamento. A tradição cristã posterior (Hegésipo, via Eusébio) acrescenta detalhes (talvez lendários) sobre sua grande piedade (sendo chamado "o Justo"), orações constantes (joelhos calejados) e sua morte sendo precipitada do pináculo do Templo e completada por espancamento.